Ética

E.C.C.O. Directrizes Profissionais I, II e III

I – Profissão (adoptado em Assembleia Geral a 1 Março 2002, Bruxelas)

Preâmbulo

Os atributos artísticos, documentais, ambientais, históricos, científicos, valores sociais ou espirituais dos objectos, edifícios e ambientes de cada sociedade são designados de “Património Cultural” e constituem um património material e cultural a ser passado para as próximas gerações.

Uma vez que é entregue pela sociedade aos cuidados do Conservador-restaurador, ele/ela tem a responsabilidade não só para o património cultural em si, mas também para com o proprietário ou responsável legal, o autor ou criador, o público, e para a posteridade. As seguintes condições servem para salvaguardar todo o património cultural, independentemente do seu proprietário, idade, estado de conservação ou valor.

  1. Definição do Conservador-Restaurador

O Conservador-restaurador é um profissional que tem a formação, o conhecimento, a habilidade, experiência e conhecimento para atuar com o objetivo de preservar o património cultural para o futuro, e de acordo com as considerações abaixo descritas.

O papel fundamental do conservador-restaurador é a preservação do património cultural para o benefício das presentes e futuras gerações. O Conservador-restaurador contribui para a percepção, apreciação e compreensão do património cultural em relação ao seu contexto ambiental, significado e às suas propriedades físicas.

O Conservador-restaurador responsabiliza-se a realizar um plano estratégico; de exame de diagnóstico; elaboração de planos de conservação e propostas de tratamento; conservação preventiva; tratamentos de conservação e restauro e documentação de observações e intervenções.

  • Exame de diagnóstico consiste na identificação, na determinação da composição e na avaliação da condição do património cultural; a identificação, a natureza e a extensão das alterações; a avaliação das causas da deterioração e a determinação do tipo e extensão do tratamento necessário. Incluindo o estudo da informação relevante existente.
  • Conservação Preventiva consiste na acção indirecta para retardar a deterioração e prevenir danos, criando as condições ideais para a preservação do património cultural, e tanto quanto é compatível com o seu uso social. Conservação preventiva engloba também a correcta manutenção, transporte, uso, armazenamento e exposição. Também pode envolver questões de produção de fac-símiles, de forma a preservar o original.
  • Conservação consiste principalmente na acção directa no património cultural, com o objectivo de estabilizar e abrandar a deterioração.
  • O restauro consiste na acção directa no património cultural danificado ou deteriorado com o objectivo de facilitar a sua percepção, apreciação e compreensão, respeitando, na medida do possível, a sua estética, história e propriedades físicas.
  • Documentação consiste no registo pictórico e escrito de todos os procedimentos realizados, e as razões por trás deles. Deve ser apresentada uma cópia do relatório ao proprietário ou responsável do património cultural e deve permanecer acessível. Quaisquer outras exigências para acondicionamento, manutenção, exposição ou acesso a bens culturais devem ser especificados no presente documento.

O registo é da propriedade intelectual do Conservador-restaurador e deverá ser mantido para referência futura.

É ainda da competência do Conservador-restaurador:

  • Desenvolver programas, projectos e pesquisas na área da conservação e restauro
  • Providenciar aconselhamento e assistência técnica para a preservação do património cultural
  • Elaborar relatórios técnicos sobre o património cultural (excluindo qualquer juízo do seu valor de mercado)
  • Realizar pesquisas
  • Desenvolver acções de formação
  • Divulgar informação adquirida com o tratamento, exames ou pesquisas
  • Promover uma compreensão mais profunda do campo da conservação e restauro
  1. Formação e Experiência

Para manter os padrões da profissão, a educação profissional do Conservador-restaurador e formação deverá corresponder ao nível de mestrado (ou equivalente reconhecido) em conservação e restauro. A experiência encontra-se mais detalhada em “Directrizes Profissionais da ECCO III”.

A Conservação e Restauro consiste num campo complexo e de rápida evolução. Portanto, o Conservador-restaurador qualificado tem a responsabilidade profissional de se manter actualizado com as novas descobertas, e garantir que pratica a sua profissão de acordo com o pensamento ético actual. O Desenvolvimento Profissional Contínuo encontra-se mais detalhado em “Directrizes Profissionais da ECCO II”.

  1. Distinção de outras áreas

A Conservação e Restauro distingue-se das áreas relacionadas (por exemplo, arte e artesanato), em que seu objetivo principal consiste na preservação do património cultural, em oposição à criação de novos objetos ou à manutenção ou reparação de objectos num sentido funcional.

O Conservador-restaurador distingue-se de outros profissionais pela sua educação específica em conservação e restauro.

(Versão original em inglês)

 

II – Código de Ética (adoptado em Assembleia Geral a 7 Março 2003, Bruxelas)

  1. Princípios Gerais para a aplicação do Código de Ética

Artigo 1. O Código de Ética engloba os princípios, obrigações e comportamento pelos quais cada Conservador-restaurador membro de uma organização da E.C.C.O. se empenhar na prática da sua profissão.

Artigo 2. A profissão de Conservador-restaurador constitui uma actividade de interesse público e deve ser praticada na observância de todas as leis e acordos nacionais e europeus aplicáveis, especialmente no que diz respeito aos bens culturais roubados.

Artigo 3. O Conservador-restaurador trabalha directamente com bens culturais e é pessoalmente responsável perante os mesmos, o proprietário e a sociedade. O Conservador-restaurador tem o direito de trabalhar sem obstáculos à sua liberdade e independência.

O Conservador-restaurador tem o direito de, em quaisquer circunstâncias, se recusar a qualquer solicitação que entenda contrária aos termos ou espírito deste Código.

O Conservador-restaurador tem o direito de esperar que lhe seja facultada, pelo proprietário ou representante, toda a informação relevante relacionada com o projecto de Conservação e Restauro (qualquer que seja a sua dimensão).

O Conservador-restaurador tem o direito de contar com que toda a informação relevante relacionada com um projecto de Conservação e Restauro (de qualquer dimensão) lhe seja facultada pelo proprietário ou seu representante.

Artigo 4. A falta da observância dos princípios, obrigações e proibições do Código de Ética constitui uma prática anti-profissional e conduzirá ao descrédito da profissão. É da responsabilidade de cada associação profissional nacional assegurar que os seus membros obedeçam ao espírito e à letra do Código de Ética e tomar medidas no caso de comprovado não cumprimento.

  1. Obrigações para com os Bens Culturais

Artigo 5. O Conservador-restaurador deve respeitar o significado estético, histórico e espiritual e a integridade física dos bens culturais que lhe foram confiados.

Artigo 6. O Conservador-restaurador, em colaboração com outros profissionais relacionados com o Património Cultural, deve ter em consideração as exigências da utilização social dos bens culturais que está a preservar.

Artigo 7. O Conservador-restaurador deve reger-se pelos mais elevados padrões, independentemente de qualquer opinião sobre o valor de mercado dos bens culturais. Embora existam circunstâncias que possam limitar a acção do Conservador-restaurador, o respeito pelo Código não deve ser comprometido.

Artigo 8. O Conservador-restaurador deve ter em consideração todos os aspectos relativos à Conservação Preventiva, antes de desempenhar o tratamento de bens culturais, e deverá limitar o tratamento ao estritamente necessário.

Artigo 9. O Conservador-restaurador deve empenhar-se em utilizar unicamente produtos, materiais e procedimentos que, de acordo com os níveis de conhecimento nesse momento, não irão danificar os bens culturais, o meio ambiente ou pessoas. A própria intervenção e os materiais usados não devem interferir, dentro do possível, com quaisquer diagnósticos, tratamentos ou análises futuros. Devem ainda ser compatíveis com os materiais constituintes desses bens culturais e, tanto quanto possível, facil e totalmente reversíveis.

Artigo 10. Os tratamentos de Conservação e Restauro de Património Cultural devem ser documentados com registos escritos e fotográficos sobre o diagnóstico, as intervenções de Conservação e Restauro e outras informações consideradas relevantes. O relatório deve incluir os nomes daqueles que desempenharam o trabalho. Uma cópia do relatório deve ser entregue ao proprietário ou representante e deverá ser mantida acessível. O relatório é propriedade intelectual do Conservador-restaurador e deverá ser mantido para referências futuras.

Artigo 11. O Conservador-restaurador apenas deverá comprometer-se com trabalho que tenha competências para desenvolver. O Conservador-restaurador não deve iniciar nem continuar um tratamento que considere não ser o melhor interesse do bem cultural.

Artigo 12. O Conservador-restaurador deve empenhar-se por enriquecer os seus conhecimentos e capacidades com o intuito constante de melhorar a qualidade do seu trabalho profissional.

Artigo 13. Sempre que se mostre necessário ou adequado, o Conservador-restaurador deve colaborar com outros profissionais e participar com eles numa completa troca de informação.

Artigo 14. Numa situação de emergência em que um bem cultural esteja em perigo iminente, o Conservador-restaurador deve prestar toda a assistência possível, seja qual for a sua especialidade.

Artigo 15. O Conservador-restaurador nunca deve remover material de bens culturais, a não ser que seja indispensável para a sua preservação ou que esse material interfira substancialmente com o seu valor histórico e estético dos bens culturais. Os materiais removidos devem ser conservados, sempre que possível, e o procedimento integralmente documentado.

Artigo 16. Quando a utilização social de um bem cultural seja incompatível com a sua preservação, o Conservador-restaurador deve discutir com o proprietário ou responsável legal se a execução de uma reprodução do bem cultural poderá ser solução. O Conservador-restaurador deve recomendar processos de reprodução adequados, de modo a não danificar o original.

III. Obrigações para com o proprietário ou responsável legal

Artigo 17. O Conservador-restaurador deve esclarecer o proprietário sobre qualquer acção necessária e especificar os meios mais adequados para uma manutenção continuada.

Artigo 18. O Conservador-restaurador é obrigado a manter confidencialidade profissional. Sempre que queira fazer referência a uma zona identificável de um bem cultural deve obter o consentimento prévio do proprietário ou responsável legal.

Artigo 19. O Conservador-restaurador não deverá nunca apoiar o comércio ilícito de bens culturais e deve combatê-lo activamente. Quando existir dúvida sobre a propriedade legal, o Conservador-restaurador deverá verificar todas fontes de informação possíveis antes de iniciar qualquer trabalho.

  1. Obrigações para com os colegas e a profissão

Artigo 20. O Conservador-restaurador deve manter um espírito de respeito pela integridade e dignidade dos colegas, da profissão e de outros profissionais e profissões relacionadas com a Conservação e Restauro.

Artigo 21. O Conservador-restaurador deve, dentro dos limites do seu conhecimento, competência, tempo e meios técnicos, participar na formação de estagiários e assistentes.

O Conservador-restaurador é responsável pela orientação do trabalho realizado pelos seus assistentes e estagiários e tem a responsabilidade última pelo trabalho realizado sob a sua supervisão. Deve igualmente manter um espírito de respeito e integridade entre todos os seus colegas.

Artigo 22. Quando o trabalho for (total ou parcialmente) subcontratado a outro Conservador-restaurador, por qualquer razão, o dono ou responsável legal deve ser informado. O Conservador-restaurador inicialmente contratado é o responsável pelo trabalho, caso não exista um acordo prévio noutro sentido.

Artigo 23. O Conservador-restaurador deve contribuir para o desenvolvimento da profissão partilhando experiências e informações.

Artigo 24. O Conservador-restaurador deve empenhar-se em promover um conhecimento profundo da profissão e uma ampla consciência da Conservação e Restauro entre outros profissionais e público.

Artigo 25. Os registos dos tratamentos de Conservação e Restauro da responsabilidade do Conservador-restaurador são sua propriedade intelectual (consoante os termos do contrato de trabalho). O Conservador-restaurador tem o direito de ser reconhecido com o autor do trabalho.

Artigo 26. O envolvimento em comércio de bens culturais não é compatível com a actividade do Conservador-restaurador.

Artigo 27. Quando um Conservador-restaurador desenvolve trabalho fora do âmbito da Conservação e Restauro, deverá assegurar-se de que o mesmo não entra em conflito com o presente Código de Ética.

Artigo 28. Para manter a dignidade e credibilidade da profissão, o Conservador-restaurador deverá utilizar apenas formas adequadas e informativas de publicitar o seu trabalho. Deve ser exercido particular cuidado em relação às Tecnologias de Informação, de modo a evitar a disseminação de informações não apropriadas, enganosas, ilegais ou não autorizadas.

(versão original em inglês)

 

III – Requisitos básicos para a formação na Conservação e Restauro (adoptado em Assembleia Geral a 1 de Março de 2002, e actualizado em Assembleia Geral a 2 de Abril de 2004, Bruxelas)

  1. Requisitos básicos para a formação na Conservação e Restauro

A formação deve basear-se nas mais elevadas normas éticas da profissão, com o objectivo de respeitar o carácter único da obra de arte, e o seu significado artístico, histórico, científico, espiritual ou religioso. Após essa formação, os formados devem ser capazes de trabalhar responsavelmente na área da conservação e restauro, nomeadamente nos aspectos mais especializados, técnicos, artísticos e científicos. Devem estar aptos a colaborar com todas as outras profissões ligadas à preservação das obras de arte. Os formados devem, também, ser capazes de levar a cabo estudos independentes na área de conservação e restauro e técnicas históricas. A formação tem também como objectivo desenvolver todas as outras capacidades consideradas importantes e que vêm na definição da conservação nas Directrizes Profissionais da E.C.C.O. (I).

  1. Tipo de Formação

Para manter os padrões da profissão, a educação profissional do Conservador-restaurador e formação deverá corresponder ao nível de mestrado (ou equivalente reconhecido) em conservação e restauro.

Este deve ser atingido por um período de 5 anos de estudo integral em conservação e restauro numa universidade e deve incluir estágios práticos bem-estruturados. Deve ser seguido pela possibilidade de estudo para o nível de doutoramento.

Tanto o ensino teórico como o prático são de grande importância, e deve ser organizado e equilibrado. Após a conclusão de um exame final, o candidato recebe um grau ou diploma. Deverá ser dada uma referência de especialidade.

Dependendo das situações nacionais, a capacidade do conservador-restaurador, também pode ser avaliada pela prática profissional, incluindo a ética e a competência na sua especialidade.

III. Experiência Profissional

Deve ser efectuada em objectos originais considerados especialmente didácticos. Os objectos escolhidos devem fornecer material para um trabalho bem documentado que inclua um exame técnico, diagnóstico e tratamento relacionado. Desde o início da sua aprendizagem, os estudantes com esses casos tipo, apercebem-se de uma forma prática, de que cada objecto é único na sua problemática. Para além disso, esses casos tipo oferecem a melhor forma de integrar todos os aspectos éticos, teóricos e metódicos na experiência profissional da conservação e restauro. O estudo e prática das técnicas artísticas e históricas e do processo de fabrico de materiais artísticos promovem um melhor entendimento dos aspectos físicos, históricos e artísticos das obras de arte.

  1. Orientações Teóricas

Um equilíbrio entre as ciências exactas e as ciências humanas é indispensável. As disciplinas teóricas devem ser em função da área de especialização no campo da conservação e restauro e devem incluir:

  • Princípios fundamentais de ética na conservação e restauro.
  • Ciência (ex. Química, Física, Biologia, Mineralogia, Teoria da côr)
  • Humanísticas (ex. História, Paleografia, História de arte, Arqueologia, Etnologia, Filosofia, Estética)
  • História dos materiais e técnicas dos artistas, incluindo tecnologia e processo de fabrico
  • Identificação e estudo dos processos de deterioração
  • Exposição e transporte de obras de arte.
  • Teoria, métodos e técnicas de conservação preventiva e curativa.
  • Conhecimento dos processos envolvidos na reprodução de objectos artísticos
  • Métodos de Documentação
  • Métodos de investigação científica
  • História da Conservação e Restauro
  • Questões legais (por exemplo, os estatutos profissionais, direito do património cultural, seguros, negócios e direito tributário)
  • Gestão (colecções, pessoal e recursos)
  • Higiene e Segurança no trabalho (incluindo questões ambientais)
  • Capacidade de comunicação (incluindo Tecnologia da Informação)

(versão original em inglês)

 

ICOM Código da Ética – O Conservador-Restaurador: a Definição da Profissão (Copenhaga, Setembro, 1984)

Preâmbulo

Este documento é baseado num texto preparado em alemão por Agnes Ballestrem, apresentado por ela como projecto de trabalho sobre Normas, na reunião entre o ICCROM e o Comité de Formação em Novembro de 1978. O Grupo de Trabalho de Formação em Conservação e Restauro do Comité do ICOM para a Conservação, discutiu o documento pela primeira vez na sua reunião em Zagreb em 1978, que após revisão, foi publicado ainda em 1981, no preprints pelo Comité do ICOM para a reunião trienal de Conservação, em Ottawa, Canadá, com uma introdução de HC von Imhoff (documento 81/22/0). Após ter sido reescrito por Eleanor McMillan e N. Paul Perrot com a correcção de erros mínimos, foi apresentada e aprovada a respectiva versão na reunião do Grupo de Trabalho de Formação em Conservação e Restauro, realizada em Dresden a 05 de Setembro de 1983 e apresentada ao Conselho de Administração da Direcção do Comité na sua reunião de Barcelona em 26 Novembro de 1983. A Direcção solicitou um trabalho mais aprofundado na formulação da definição antes do Grupo de Trabalho o apresentar a todo o Comité na reunião trienal de Copenhaga em Setembro de 1984. Esta última versão consiste no resultado das revisões feitas por Ray Isar, Bridgland Janet e Christoph von Imhoff entre Novembro de 1983 e Agosto de 1984.

  1. Introdução

1.1 O objectivo deste documento consiste em estabelecer os propósitos básicos, os princípios e as exigências da profissão da Conservação.

1.2 Na maioria dos países, a profissão de conservador-restaurador continua indefinida(1): quem conserva e restaura é chamado de conservador ou de restaurador, independentemente da extensão e profundidade da experiência.

1.3 A preocupação com a ética e normas profissionais para os objectos que estão a ser tratados e para com os proprietários destes objectos, levou a várias tentativas de definir a profissão, para distingui-lo de profissões afins(2), e estabelecer requisitos de formação adequadas. À semelhança de outras profissões, como as de advogado, médico e arquitecto, que passaram por uma fase de auto-exame e definição e estabeleceram padrões amplamente aceites. Tal definição da profissão de conservador-restaurador é agora atingido, e deverá ajudar a profissão a atingir a paridade em estado com disciplinas como as do curador ou o arqueólogo.

  1. A actividade do Conservador-Restaurador

2.1 A actividade do conservador-restaurador (conservação) consiste no exame técnico, preservação e conservação e restauro de bens culturais: Exame consiste no procedimento preliminar tomado para determinar o significado documental de um artefacto; estrutura original e materiais, a extensão da sua deterioração, alteração e perda; e a documentação destes resultados. Preservação consiste na acção para retardar ou prevenir a deterioração ou danos de bens culturais por controlo do seu ambiente e / ou o tratamento da sua estrutura, a fim de os manter tão próximo quanto possível num um estado imutável. Restauro consiste na acção tomada para fazer um artefacto deteriorado ou danificado compreensível, com sacrifício mínimo de integridade estética e histórica.

2.2 Trabalhador conservador-restaurador em museus, nos serviços de protecção oficiais do património, empresário particular ou independente. A sua tarefa consiste na compreensão do aspecto material e importância histórica e artística dos objectos, a fim de evitar a sua deterioração, e para melhorar a nossa compreensão das mesmas, de forma a distinguir original do falso.

  1. O impacto e a posição do Conservador-restaurador

3.1 O conservador-restaurador tem a particular responsabilidade de realizar tratamentos em objectos originais insubstituíveis, que são muitas vezes únicos e de grande valor artístico, religioso, histórico, científico, cultural, social ou económico. O valor de tais objectos está no carácter da sua manufactura, como provas como documentos históricos e, consequentemente, na sua autenticidade. Os objectos “são uma expressão significativa da vida espiritual, religiosa e artística do passado, muitas vezes documentos de uma situação histórica, sejam eles de trabalho de primeira categoria ou simplesmente objectos da vida quotidiana”(3).

3.2 A qualidade documental do objecto histórico é a base para a pesquisa em história da arte, etnografia, arqueologia e em outras disciplinas de carácter científico. Daí, a importância de preservar a sua integridade física. 3.3 Como o risco de manipulação prejudicial ou transformação do objecto é inerente a qualquer medida de conservação ou restauro, o conservador-restaurador deve trabalhar em estreita cooperação com o curador ou estudioso relevante. Juntos, deverão distinguir entre o necessário e o supérfluo, o possível e o impossível, a intervenção que melhora as qualidades do objecto e o que é prejudicial à sua integridade.

3.4 O conservador-restaurador deve estar ciente da natureza documental de um objecto. Cada objecto contém – isoladamente ou combinado – história, estilo, iconografia, tecnologia, intelectual, estético e / ou mensagens espirituais. Durante a pesquisa e trabalho sobre o objecto, o conservador-restaurador deverá ser-lhes sensível, ser capaz de reconhecer a sua natureza, e ser guiado por eles no desempenho da sua tarefa.

3.5 Portanto, todas as intervenções devem ser precedidas por um exame metódico e científico que visa compreender o objecto em todos os seus aspectos, e as consequências de cada manipulação devem ser totalmente consideradas. Aquele que, por falta de formação é incapaz de realizar tais exames ou quem quer que proceda desta forma, ou por falta de interesse ou por negligência, não lhe poderá ser confiada a responsabilidade para o tratamento. Apenas um conservador-restaurador com uma formação experiente pode interpretar correctamente os resultados de tais exames e prever as consequências das decisões tomadas.

3.6 Uma intervenção num objecto histórico ou artístico deve seguir a sequência comum a toda a metodologia científica: investigação de fonte, análise, interpretação e síntese. Só então o tratamento poderá ser concluído, preservando a integridade física do objecto, com o seu significado acessível. Destacando que esta abordagem aumenta a nossa capacidade de decifrar a mensagem do objecto científico e, assim, contribuir com novos conhecimentos.

3.7 O conservador-restaurador trabalha no próprio objecto. O seu trabalho, tal como um cirurgião, é acima de tudo uma arte manual / habilidade. No entanto, assim como no caso do cirurgião, a habilidade manual deve ser ligada ao conhecimento teórico e, simultaneamente, a capacidade de avaliar a situação, agir imediatamente e avaliar o seu impacto.

3.8 A cooperação interdisciplinar possui grande importância, pois actualmente o conservador-restaurador deve trabalhar como parte de uma equipa. Assim como o cirurgião não pode ser, simultaneamente, um radiologista, patologista e psicólogo, o conservador-restaurador não pode ser um especialista em arte ou história cultural, química e / ou de outras ciências naturais ou humanas. Tal como o trabalho do cirurgião, o do conservador-restaurador pode e deve ser complementada com os resultados analíticos e de pesquisa de estudiosos. Tal cooperação funcionará bem se o conservador-restaurador for capaz de formular as suas perguntas precisa e cientificamente, e interpretar as respostas no próprio contexto.

  1. Distinção de Profissões relacionadas

4.1 A actividade profissional do conservador-restaurador é distinta das profissões artísticas ou artesanais. Um critério básico desta distinção consiste no facto da actividade do conservador-restaurador não criar novos objectos culturais. É a fronteira de profissões artesanais e artísticas, tais como ourives, douradores, marceneiros, decoradores, e outros que reconstroem fisicamente o que já não existe ou o que não pode ser preservado. No entanto, eles também podem beneficiar muito com as descobertas do conservadores-restaurador, e da sua orientação.

4.2 A recomendação da realização de uma intervenção por um artista, artesão ou conseravdor-restaurador num qualquer objecto com significado histórico e / ou artístico deverá ser realizada apenas por um conservador-restaurador experiente, bem-educado e altamente sensível. Este indivíduo sozinho, em conjunto com o curador ou com outro especialista, tem os meios para examinar o objecto, determinar a sua condição, e avaliar a sua importância documental e material.

  1. Experiência e Formação do Conservador-restaurador

5.1 Para estar de acordo com as características e especificações profissionais acima descritas, o conservador-restaurador deve receber formação transversal, baseada na educação artística, técnica e científica.

5.2 A formação deve envolver o desenvolvimento da sensibilidade, destreza manual, a aquisição de conhecimentos teóricos sobre materiais e técnicas, e profundo rigor na metodologia científica para promover a capacidade de resolver problemas de conservação, seguindo uma abordagem sistemática, usando a pesquisa precisa e critica na interpretação dos resultados.

5.3 A formação teórica deverá incluir os seguintes temas:

  • História da Arte das civilizações
    • Métodos de pesquisa e documentação
    • Conhecimento da tecnologia e materiais
    • Teoria da conservação e da ética
    • História e técnicas da conservação e restauro
    • Processos de deterioração e métodos de conservação, químicos, biológicos e físicos

5.4 Entende-se que o estágio consiste numa parte essencial de qualquer programa de formação. A formação deverá ser concluída por uma tese ou diploma de papel, e a sua conclusão deverá ser reconhecida pelo equivalente a grau universitário.

5.5 Em todas as fases da formação, deverá ser dado maior ênfase na prática, contudo, nunca dever-se-á perder a necessidade de desenvolver e aprimorar a compreensão de factores técnicos, científicos, históricos e estéticos. O objectivo final da formação consiste em desenvolver profissionais bem informados, capazes criticamente de realizar intervenções de conservação altamente complexas e documentá-las, de forma a que o trabalho e os registos não contribuam apenas para a preservação, mas também para uma compreensão mais profunda dos acontecimentos históricos e artísticos relacionados com os objectos em tratamento.

(1) Este termo é utilizado em todo este texto, como um compromisso, uma vez que o mesmo profissional é chamado de “conservador” nos países de língua inglesa, e “restaurador” naqueles em línguas românicas e germânicas são faladas.
(2) Certas profissões relacionadas com a conservação, Arquitectos de Conservação, Cientistas e Engenheiros, e todos os outros que contribuem para a conservação, não são mencionados neste documento, uma vez que são já objecto de padrões profissionais aceites.
(3) GS Graf Adelmann ‘”, restaurátor und Denkmalpflege” em Nachrichtenblatt der Denkmalpflege em Baden-Württemberg, vol. 8 n º 3, de 1965.