Renúncia | Rui Camara Borges

Caros colegas conservadores-restauradores,

Na sequência da minha recente nomeação para Diretor do Laboratório José de Figueiredo, entendo que a minha permanência como Presidente da ARP, não me permitirá desenvolver junto do Ministério da Cultura, de forma plena, as linhas de trabalho que têm vindo a ser seguidas atualmente pela Associação na defesa dos seus profissionais, e por esse motivo irei apresentar a minha renúncia ao cargo de Presidente da Direção.

Foram 12 anos de dedicação, procurando sempre novas formas de pensar e agir na Conservação e Restauro, com a missão de expandir os seus horizontes e quebrar barreiras no contexto nacional. Foi uma jornada de desafios e conquistas, em que a vontade de modernizar e transformar foi a força motriz por trás de cada ação.

Ao longo desta década, a ARP enfrentou momentos de grande dificuldade, partindo de uma base frágil com poucos membros ativos. Mas, com uma visão clara e um compromisso para com a nossa profissão, conseguimos reestruturar a Associação, ampliar o número de associados, revitalizar a nossa revista científica e, acima de tudo, fazer com que a sociedade e o governo reconhecessem a importância fundamental dos conservadores-restauradores e do seu serviço público. Este processo foi enriquecido pela visão europeia da ECCO e da ENCoRE, que nos trouxe valiosas experiências, permitindo tomar decisões mais amplas, ousadas e seguras.

Cada decisão foi tomada com responsabilidade, com um espírito de partilha e colaboração dentro das direções, contribuindo todos os seus membros de forma leal e solidária, sempre com a missão comum de fortalecer a nossa profissão. A base para cada ação foi construída com informações sólidas e um forte espírito de missão, que sempre guiou as nossas escolhas.

Foram muitos os momentos que marcaram este nosso percurso, mas destaco dois especialmente significativos, ocorridos em diferentes contextos.

O primeiro, em 2012, o desígnio de assumir a direção de uma associação fragilizada, alvo de críticas e incompreensões. Só entendemos o real tamanho do desafio quando tomámos consciência da situação, o que nos motivou a agir ainda com mais determinação. Com muito esforço e superação, conseguimos resgatar a visibilidade e a credibilidade da ARP.

O segundo, que esteve presente ao longo de todos estes anos, a pretensão do reconhecimento da profissão e de ver plasmado em documento legal o reconhecimento das qualificações e competências do profissional conservador-restaurador. Trabalho exigente, absorvente, e intenso, que culminou recentemente numa importante revisão do Decreto-lei nº. 140/2009, introduzindo um conjunto de alterações importantes para o setor, relacionadas com as intervenções de conservação e restauro, em património móvel, móvel integrado e património imóvel. A resiliência de todas as direções foi fundamental, e a persistência foi a nossa maior aliada.
Em ambos os momentos, atribuo a vitória à perseverança!

Ao longo deste percurso, sempre soube que a liderança da ARP não era responsabilidade de uma única pessoa, mas de todos os que com ela se comprometeram. Ser Presidente foi um privilégio, um desafio constante, e uma aprendizagem diária. Sinto-me extremamente honrado por, em todos os momentos, ter estado rodeado de pessoas que potenciaram as minhas capacidades, e que partilharam uma visão comum: fazer o melhor pela nossa Associação!

A ARP tem um papel essencial na sociedade, deve ser respeitada na área da Conservação e Restauro e contribuir para a valorização dos seus profissionais, deve trabalhar com o governo, seja ele qual for, deve ser respeitada pela tutela e constituir para esta um símbolo de referência.
Não há salvaguarda e preservação do património cultural sem conservadores-restauradores capacitados, bem formados e respeitados, e é preciso representá-los com uma visão forte e agregadora, mas para isso é fundamental que todos nós profissionais conservadores-restauradores continuemos a participar ativamente neste esforço coletivo!

Rui Camara Borges